28.10.11

COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS

Hamlet se refere à morte como um território desconhecido, do qual nunca ninguém voltou para contar como é. Apesar disso, a crença de que a alma humana sobrevive à morte do corpo físico é mais antiga do que a própria humanidade. Antes mesmo que o ser humano atual surgisse, há cinquenta mil anos, o Homem de Neanderthal já enterrava seus mortos com rituais que sugerem fortemente a esperança de que o morto continuasse vivendo num outro mundo. Desde então, praticamente não existe religião, crença ou cultura que não descreva algum tipo de vida após a morte – o Amenti egípcio, o Paraíso e o Inferno dos cristãos, o plano astral dos esoteristas, o Bardo do budismo tibetano são todos diferentes versões do mundo que supostamente nos espera.
A hipótese de que a consciência humana sobreviva à morte automaticamente levanta uma outra possibilidade ainda mais intrigante: a de que talvez seja possível estabelecer algum tipo de comunicação com os mortos. Histórias de fantasmas e aparições dão mais peso a essa possibilidade. Mesmo que a grande maioria dessas histórias possa ser descartada como pura lenda, crendice ou farsa, resta uma pequena porcentagem que desafia explicações racionais.
Em todo caso, histórias de fantasmas indicam um tipo de comunicação com os mortos em que a iniciativa do contato parte do espírito. É ele quem escolhe quando e como se manifestar aos vivos. Mas e o contrário, será possível?
Muitos acreditam que sim. Um dos ramos da magia antiga, a chamada necromancia, mencionada até na Bíblia, era voltada exclusivamente para a arte de evocar os mortos, com rituais executados em cemitérios e que frequentemente envolviam o sacrifício de animais.
A natureza bizarra de seus rituais sempre fez com que a necromancia fosse olhada com desconfiança pelas instituições religiosas e, com o tempo, ela foi quase completamente abandonada. A partir do século XIX, os necromantes foram substituídos por médiuns, pessoas que alegam enviar e receber mensagens dos mortos graças a um dom puramente psíquico, sem necessidade de todo o aparato exótico da necromancia. De acordo com os que acreditam, existem vários tipos de mediunidade:
  • Clarividência: a capacidade de ver os mortos.
  • Clariaudiência: a capacidade de ouvir as vozes dos mortos.
  • Psicografia: a capacidade de escrever mensagens ditadas pelos mortos.
  • Intuição: a capacidade de receber insights, que muitos acreditam se originar de uma fonte espiritual.
Com o advento da tecnologia, surgiu uma nova modalidade de suposto contato com o mundo dos espíritos, a chamada transcomunicação instrumental (TCI), que se refere a qualquer tipo de comunicação com os mortos feita com o auxílio de meios eletrônicos – gravadores, telefone, televisão e até, mais recentemente, computadores.
O pioneiro da transcomunicação instrumental foi o psicólogo lituano Konstantin Raudive, originalmente um discípulo de Carl Gustav Jung, que abandonou seu país de origem após a Revolução Comunista e se radicou na Suécia. Na década de 1960, Raudive e o parapsicólogo alemão Hans Bender se dedicaram a investigar o fenômeno das vozes eletrônicas (electronic voice phenomena ou EVP), originalmente descrito pelo pesquisador Friedrich Jürgenson. EVPs são produzidos por um gravador comum, sintonizado em estática ou ruído branco, em meio ao qual ocasionalmente surgem vozes que não são atribuíveis a nenhuma fonte humana.
Para os que acreditam, essas vozes se originariam de espíritos desencarnados tentando se comunicar com os vivos. Para os que não acreditam, elas teriam uma explicação natural. Os céticos salientam que o cérebro humano é programado para perceber padrões significativos mesmo onde não existe nenhum, como quando, por exemplo, olhamos para uma nuvem e vemos um elefante. De acordo com eles, os EVP seriam o equivalente auditivo dessa mesma tendência, que nos faria ouvir vozes onde existem apenas ruídos aleatórios.

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