29.10.11

Saci-pererê

O Saci-Pererê é um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro. Possuí até um dia em sua homenagem: 31 de outubro. Provavelmente, surgiu entre povos indígenas da região Sul do Brasil, ainda durante o período colonial (possivelmente no final do século XVIII). Nesta época, era representado por um menino indígena de cor morena e com um rabo, que vivia aprontando travessuras na floresta.


Porém, ao migrar para o norte do país, o mito e o personagem sofreram modificações ao receberem influências da cultura africana. O Saci transformou-se num jovem negro com apenas uma perna, pois, de acordo com o mito, havia perdido a outra numa luta de capoeira. Passou a ser representado usando um gorro vermelho e um cachimbo, típico da cultura africana. Até os dias atuais ele é representado desta forma.


O comportamento é a marca registrada deste personagem folclórico. Muito divertido e brincalhão, o saci passa todo tempo aprontando travessuras na matas e nas casas. Assusta viajantes, esconde objetos domésticos, emite ruídos, assusta cavalos e bois no pasto etc. Apesar das brincadeiras, não pratica atitudes com o objetivo de prejudicar alguém ou fazer o mal.


Diz o mito que ele se desloca dentro de redemoinhos de vento, e para captura-lo é necessário jogar uma peneira sobre ele. Após o feito, deve-se tirar o gorro e prender o saci dentro de uma garrafa. Somente desta forma ele irá obedecer seu “proprietário”.


Mas, de acordo com o mito, o saci não é voltado apenas para brincadeiras. Ele é um importante conhecedor das ervas da floresta, da fabricação de chás e medicamentos feitos com plantas. Ele controla e guarda os segredos e todos estes conhecimentos. Aqueles que penetram nas florestas em busca destas ervas, devem, de acordo com a mitologia, pedir sua autorização. Caso contrário, se transformará em mais uma vítima de suas travessuras.


A crença neste personagem ainda é muito forte na região interior do Brasil. Em volta das fogueiras, os mais velhos contam suas experiências com o saci aos mais novos. Através da cultura oral, o mito vai se perpetuando. Porém, o personagem chegou aos grandes centros urbanos através daliteratura, da televisão e das histórias em quadrinhos.


Quem primeiro retratou o personagem, de forma brilhante na literatura infantil, foi o escritor Monteiro Lobato. Nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, o saci aparece constantemente. Ele vive aprontando com os personagens do sítio. A lenda se espalhou por todo o Brasil quando as histórias de Monteiro Lobato ganharam as telas da televisão, transformando-se em seriado, transmitido no começo da década de 1950. O saci também aparece em várias momentos das histórias em quadrinhos do personagem Chico Bento, de Maurício de Souza.


Segundo a crença popular os Sacis vivem setenta e sete anos e se originam do bambu. Após sete anos de “gestação” dentro do gomo do bambu ele sai para uma longa vida de travessuras e quando morre se metamorfoseia em cogumelos venenosos ou em “orelhas de pau”. Quem é do interior ou já foi ao campo a passeio deve ter visto alguma vez, uma espécie de cogumelo que se forma nos troncos das árvores e que se parece com uma orelha. É isso que os matutos chamam de “orelha de pau”.



Apesar das inúmeras definições dessa famosa entidade folclórica algumas características são mais presentes e recorrentes nas descrições do Saci. Sabe-se que em geral:


- é um ser que vive nas matas;

- é extremamente misterioso;

- é negro, pequeno e possui apenas uma perna;

- usa um capuz vermelho e um cachimbo;

- não possui pêlos no corpo;

- não possui órgãos para urinar ou defecar;

- só tem três dedos em cada mão;

- possui as mãos perfuradas;

- adora assoviar e ficar invisível;

- vive com os joelhos machucados, resultado das travessuras;

- tem o domínio dos insetos que atormentam o homem: mosquitos, pernilongos, pulgas, etc.;

- fuma em um pito e solta fumaça pelos olhos;

- adora fazer travessuras;

- pode, em momentos de bom humor ajudar a encontrar coisas perdidas;

- gira em torno de si feito um pião e provoca redemoinhos;

- pode ser malvado e perigoso;

- adora encantar as criancinhas faze-las perder-se na mata;


Algumas pessoas afirmam que o único meio de driblar o negrinho é espalhando cordas ou barbantes amarrados pelo caminho. Assim ele se ocuparia em desatar os nós, dando tempo da pessoa fugir de sua perseguição. O Saci também tem medo de córregos e riachos, por isso, atravessar um pode ser uma alternativa, pois o Saci não consegue fazer a travessia.

Mas o único meio de controlar um Saci, segundo o mito, é tirando-lhe o gorro e prendendo-o em uma garrafa. Para isso é necessário jogar uma peneira ou um rosário bento em um redemoinho. Só dessa forma se pega um Saci. Uma vez preso e sem o gorro que lhe dá poderes ele fará tudo que for mandado.

As origens

Diante de todas essas informações fica a pergunta: onde teria nascido a lenda do Saci? Os estudos sobre o folclore brasileiro apontam a origem indígena quando falam da lenda do Saci. Esse mito teria surgido na região Sul do Brasil durante o período colonial, por vota do final do século XVIII, por ocasião das Missões.

A alcunha pela qual o Saci é mais popularmente conhecido é Saci-Pererê, mas seu nome originalmente era Yaci-Yaterê de origem Tupi Guarani. De acordo com a região do Brasil ele pode, porém, ser conhecido por uma variedade de apelidos.

O dicionário Aurélio traz as seguintes variações de nomes do Saci: “Saci-cererê, Saci-pererê, Matimpererê, Martim-pererê” (AURÉLIO, 2005). Além dessas denominações Martos e Aguiar (2001, p. 75) apontam ainda: “saci-saçura, sacisarerê, saci-siriri, saci-tapererê ou saci-trique”. Por ser considerado por alguns um perito na arte da transformação em aves, o negrinho travesso recebe ainda nomes de passarinhos nos quais se transforma, como por exemplo: matitaperê, matintapereira, sem-fim, entre outros (ibidem, p. 75). Na região às margens do Rio São Francisco ele é conhecido pela alcunha de Romão ou Romãozinho.

MITOS BRASILEIROS ‘...o diabo no meio do redemunho”.(Guimarães Rosa) O saci,Pererê ouTaperê é um moleque controvertido. Uns acham que sua origem é cabocla;foi inventado pelos índios como um duende protetor das florestas e que causava aborrecimentos diversos a quem devastasse as matas.Seria um curumim perneta,que andava solto pelo mundo,com seus assustadores olhos avermelhados e poderes de” encantar” coisas ou pessoas. Para algumas pessoas, uma entidade maléfica,mas,graciosa e zombeteira,ágil,astuto,que gostava de fumar cachimbo,de entrançar as crinas dos animais,depois de montá-los em corridas desabaladas noite a dentro fazendo reinações,seu assobio longo e fino,atravessando o horizonte,nunca localizado,mas,sempre assustador. Diferente dos outros “encantados” não atravessa água. Em algumas versões pode dar dinheiro. Mas,na maioria das vezes o que dá mesmo é consumição;apaga o fogo,queima o feijão,espanta o gado,assusta os viajantes,azeda o leite,atucana as cozinheiras,quebra a ponta das agulhas,esconde coisas,gora os ovos;adora pregar peças,como virar um prego com a ponta para cima,fazendo um cristão furar o pé. Criança reinadora, aparece como um corrupio,no vento. Quem quiser apanhá-lo,basta jogar uma peneira no meio do redemoinho e prendê-lo numa garrafa;ele virará seu escravo.Reminiscências do gênio da lâmpada,da cultura oriental?Talvez! Só começou a ser citado no século XIX;parece que nasceu num broto de bambu,vive aí por sete anos e depois vive mais setenta e sete,quando se transforma em orelhas de pau. Na versão nordestina ele é um negrinho que usa uma carapuça vermelha.Dizem que perdeu a perna numa luta de capoeira;essa carapuça lembra o pileus dos íncubos romanos,citados por Petronio (Satyricon),que dava muitas riquezas a quem os arrebatasse. Esse negrinho metido e safado também aparece no folclore português. Há também pássaros com o seu nome e a matinta pereira parece ser uma espécie de saci. O primeiro a trazê-lo à luz foi o magnífico escritor Monteiro Lobato, autor do livro “O Saci” e que inclusive fez uma enquete sobre ele. Capistrano de Abreu descreveu assim o Kilaino,outra forma do saci,comum entre os bacaeris no Mato Grosso:”ente maléfico que mora no mato,assume formas diferentes,alimenta-se de ratos e passarinhos,esconde a caça morta,não atravessa água,imune às setas atiradas e fazendo pessoas derrubarem coisas;o caçador no mato,quando grita por seu parceiro para orientar-se,o kilaino responde aos gritos e transvia o infeliz,que se perde. O saci ganhou um dia só para ele;31 de outubro,assim criado para fazer frente ao Halloween,um americanismo extravagante que passou a ter sucesso entre nós,como tudo,aliás,que vem das “estranjas”.

Os maias




A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita(único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo), pela sua arte,arquitetura, matemática e sistemas astronômicos. Inicialmente estabelecidas durante o período pré-clássico (1000 a.C. a 250 d.C.), muitas cidades maias atingiram o seu mais elevado estado de desenvolvimento durante o período clássico (250 d.C. a 900 d.C.), continuando a se desenvolver durante todo o período pós-clássico, até a chegada dos espanhóis. No seu auge, era uma das mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas sociedades do mundo.


A civilização maia divide muitas características com outras civilizações da Mesoamérica, devido ao alto grau de interação e difusão cultural que caracteriza a região. Avanços como a escrita, epigrafia e o calendário não se originaram com os maias; no entanto, sua civilização se desenvolveu plenamente. A influência dos maias pode ser detectada em países como Honduras, Guatemala, El Salvador e na região central do México, a mais de 1000 km da área maia. Muitas influências externas são encontrados na arte e arquitetura Maia, o que acredita-se ser resultado do intercâmbio comercial e cultural, em vez de conquista externa direta. Os povos maias nunca desapareceram, nem na época do declínio no período clássico, nem com a chegada dos conquistadores espanhóis e a subsequentecolonização espanhola das Américas. Hoje, os maias e seus descendentes formam populações consideráveis em toda a área antiga maia e mantém um conjunto distinto de tradições e crenças que são o resultado da fusão das ideologias pré-colombianas e pós-conquista (e estruturado pela aprovação quase total do catolicismo romano). Muitas línguas maias continuam a ser faladas como línguas primárias ainda hoje; o Rabinal Achí, uma obra literária na língua achi, declarada uma obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2005.




As evidências arqueológicas mostram que os maias começaram a edificar sua arquiteturacerimonial há 3000 anos. Entre os estudiosos, há um certo desacordo sobre os limites e diferenças entre a civilização maia e a cultura mesoamericana pré-clássica vizinha dos olmecas. Os olmecas e os maias antigos parecem ter-se influenciado mutuamente.


Os monumentos mais antigos consistem em simples montículos remanescentes de tumbas, precursoras das pirâmides erguidas mais tarde. Eventualmente, a cultura olmeca ter-se-ia desvanecido depois de dispersar a sua influência na península de Iucatã, na Guatemala e em outras regiões.


Os maias construíram as famosas cidades de Tikal, Palenque, Copán e Calakmul, e também Dos Pilas, Uaxactún, Altún Ha, e muitos outros centros habitacionais na área. Jamais chegaram a desenvolver um império embora algumas cidades-estado independentes tenham formado ligas temporárias, associações e mesmo rápidos períodos de suserania. Osmonumentos mais notáveis são as pirâmides que construíram em seus centros religiosos, junto aos palácios de seus governantes. Outros restos arqueológicos muito importantes são as chamadas estelas (os maias as chamam detetún, ou "três pedras"), monólitos de proporções consideráveis que descrevem os governantes da época, sua genealogia, seus feitos deguerra e outros grandes eventos, gravados em caracteres hieroglíficos.


Os maias tinham economia preponderantemente agrícola embora praticassem ativamente o comércio em toda a Mesoamérica e possivelmente para além desta. Entre os principais produtos do comércio estavam o jade, o cacau, o sal e a obsidiana.




A base econômica dos maias era a agricultura, principalmente do milho, praticada com a ajuda da irrigação, utilizando técnicas rudimentares e itinerantes, o que contribuiu para a destruição de florestas tropicas nas regiões onde habitavam, desenvolveram também atividades comerciais cuja classe dos comerciantes gozavam de grandes privilégios.


Como unidade de troca, utilizavam sementes de cacau e sinetas de cobre, material que empregavam também para trabalhos ornamentais, ao lado do ouro, da prata, do jade, das conchas do mar e das plumas coloridas. Entretanto, desconheciam as ferramentas metálicas.


Atividades agrícolas e comerciais


Os maias cultivavam o milho (três espécies), algodão, tomate, cacau, batata e frutas. Domesticaram o peru e a abelha que serviam para enriquecer sua dieta, à qual somavam também a caça e a pesca.


É importante observar que por serem os recursos naturais escassos não lhes garantindo o excedente que necessitavam a tendência foi desenvolverem técnicas agrícolas, como terraços, por exemplo, para vencer a erosão.Os pântanos foram drenados para se obter condições adequadas ao plantio. Ao lado desses progressos técnicos, observamos que o cultivo de milho se prendia ao uso das queimadas. Durante os meses da seca, limpavam o terreno, deixando apenas as árvores mais frondosas. Em seguida, ateavam fogo para limpá-lo deixando o campo em condições de ser semeado. Com um bastão faziam buracos onde se colocavam as sementes.


Dada a forma com que era realizado o cultivo a produção se mantinha por apenas dois ou três anos consecutivos. Com o desgaste certo do solo, o agricultor era obrigado a procurar novas terras. Ainda hoje a técnica da queimada, apesar de prejudicar o solo, é utilizada em diversas regiões do continente americano.


As Terras Baixas concentraram uma população densa em áreas pouco férteis. Com produção pequena para as necessidades da população, foi necessário não apenas inovar em termos de técnicas agrícolas, como também importar de outras regiões produtos como o milho, por exemplo.


O comércio era dinamizado com produtos como o jade, plumas, tecidos, cerâmicas, mel, cacau e escravos, através das estradas ou de canoas.


Muitos consideram a arte maia da Era Clássica (200 a 900 d.C.) como a mais sofisticada e bela do Novo Mundo antigo. Os entalhes e relevos em estuque de Palenque e a estatuária de Copánsão


Somente existem fragmentos da pintura avançada dos maias clássicos, a maioria sobrevivente em artefatos funerários e outras cerâmicas. Também existe uma construção em Bonampak que tem murais antigos e que, afortunadamente, sobreviveram a um acidente desconhecido até hoje.


Com as decifrações da escrita maia se descobriu que essa civilização foi uma das poucas nas quais os artistas escreviam seu nome em seus trabalhos.Os maias sacrificavam humanos e animais como forma de renovar ou estabelecer relações com o mundo dos deuses. Esses rituais obedeciam diversas regras. Normalmente, eram sacrificados pequenos animais, como perus e codornas, mas nas ocasiões muito excepcionais (tais como adesão ao trono, falecimento do monarca, enterro de algum membro da família real ou períodos de seca) aconteciam sacrifícios de humanos. Acredita-se que crianças eram muitas vezes oferecidas como vítimas sacrificiais porque os maias acreditavam que essas eram mais puras.


Pouco se sabe a respeito das tradições religiosas dos maias, a religião ainda não é completamente entendida por estudiosos. Assim como os astecas e os incas, os maias acreditavam na contagem cíclica natural do tempo. Os rituais e cerimônias eram associados a ciclos terrestres e celestiais que eram observados e registrados em calendários separados. Os sacerdotes maias tinham a tarefa de interpretar esses ciclos e fazer um panorama profético sobre o futuro ou passado com base no número de relações de todos os calendários. A purificação incluia jejum, abstenção sexual e confissão. A purificação era normalmente praticada antes de grandes eventos religiosos. Os maias acreditavam na existência de três planos principais nocosmo: a Terra, o céu e o submundo.


Os deuses maias não eram entidades separadas como os deuses gregos. Também não existia a separação entre o bem e o mal e nem a adoração de somente um deus regular, mas sim a adoração de vários deuses conforme a época e situação que melhor se aplicava para aquele deus.


Com frequência os templos religiosos mais importantes se encontravam em cima das pirâmides maias, supostamente por ser o lugar mais perto do céu. Embora recentes descobertas apontem para o uso extensivo de pirâmides como tumbas, os templos raramente parecem ter contido sepulturas. A falta de câmaras funerárias indica que o propósito de tais pirâmides não é servir como tumbas e se as encerram isto é incidental.


Pelas íngremes escadarias, se permitia aos sacerdotes e oficiantes o acesso ao cume da pirâmide onde havia três pequenas câmaras com propósitos rituais. Os templos sobre as pirâmides, a mais de 70 metros de altura, como em El Mirador, de onde se descortinava o horizonte ao longe, constituíram estruturas impressionantes e espetaculares, ricamente decoradas. Comumente possuíam uma crista sobre o teto, ou um grande muro que, teorizam, poderia ter servido para a escrita de sinais rituais para serem vistos por todos.


Como eram ocasionalmente as únicas estruturas que excediam a altura da selva, as cristas sobre os templos eram minuciosamente talhadas com representações dos governantes que se podiam ver de grandes distâncias. Debaixo dos orgulhosos templos estavam as pirâmides que eram, em última instância, uma série de plataformas divididas por escadarias empinadas que davam acesso ao templo.

28.10.11

Chupa cabras

O primeiro relato documentado sobre a existência da criatura que ficou conhecida como “o chupa-cabras” surgiu em março de 1995, em Porto Rico, onde oito ovelhas foram encontradas mortas misteriosamente. Em seu peito foram encontrados três orifícios simétricos e o sangue dos animais havia sido completamente drenados. Foi o início de uma verdadeira epidemia de animais mortos, todos com as mesmas características. Pouco tempo depois, uma testemunha,  Madelyne Tolentino, declarou ter visto a criatura que estaria causando a mortandade. Depois disso, dezenas de testemunhas teriam avistado a criatura, não só em Porto Rico, mas em boa parte das Américas Central e do Sul, inclusive no Brasil, e sempre associada à morte de animais em circunstâncias estranhas.
Apelidado de “chupa-cabras”, o ser costuma ser descrito como um animal do tamanho de um urso pequeno, com garras protuberantes e grandes olhos, pele de um marrom esverdeado e presas aguçadas, que ataca o gado saltando sobre o seu pescoço, mordendo-o e sugando seu sangue até a morte do bicho. Vários relatos mencionam um odor forte e desagradável que cerca a criatura. Alguns depoimentos atribuem características reptilianas ao chupa-cabras, como pele escamosa e placas ósseas na região dorsal. Pesquisadores notaram a semelhança entre essas características e alguns animais fantásticos do folclore, como o lobisomem, o Sigbin mencionado nas lendas filipinas ou o Arranca-Línguas do sertão brasileiro.
Os boatos sobre o chupa-cabras chamaram a atenção da comunidade ufológica por causa dos animais encontrados sem sangue e com orifícios perfeitamente redondos espalhados pelo corpo, características que lembram muito um fenômeno conhecido no jargão ufológico como “mutilações de gado”. A diferença é que nos casos de mutilações de gado, luzes estranhas e objetos voadores não identificados, algumas vezes parecidos com grandes helicópteros negros de aspecto futurista, costumam aparecer na mesma região onde os animais mortos são encontrados, ou logo antes ou imediatamente depois da morte.
Foi o bastante para levar os ufólogos a especular sobre uma possível ligação entre o chupa-cabras e os discos voadores. Sugeriu-se que o chupa-cabras poderia ser um alienígena ou então um animal desenvolvido pelos extraterrestres por meio de engenharia genética, como uma espécie de experimento. Mas, até onde eu sei, até hoje não se encontrou nenhuma evidência concreta relacionando os dois fenômenos, e nem todos os pesquisadores se deixam levar pela ideia de que discos voadores e chupa-cabras são farinha do mesmo saco.
Uma hipótese mais plausível é a de que o chupa-cabras seja um animal pertencente a uma espécie ainda não descoberta pela ciência. Afinal, existem bilhões de espécies no planeta, e nem todas foram catalogadas pelos zoólogos. De fato, há todo um ramo das paraciências que se dedica exclusivamente ao estudo dessas espécies desconhecidas. É a chamadacriptozoologia. Espécies criptozoológicas incluiriam não só o chupa-cabras, mas velhos conhecidos nossos, como o Abominável Homem das Neves, o Pé Grande e o Monstro de Loch Ness. E em 2011, Benjamin Radford, editor da revista científica Skeptical Enquirer, apresentou uma terceira explicação para o chupa-cabras, uma que não envolve nem alienígenas, nem espécies desconhecidas.

COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS

Hamlet se refere à morte como um território desconhecido, do qual nunca ninguém voltou para contar como é. Apesar disso, a crença de que a alma humana sobrevive à morte do corpo físico é mais antiga do que a própria humanidade. Antes mesmo que o ser humano atual surgisse, há cinquenta mil anos, o Homem de Neanderthal já enterrava seus mortos com rituais que sugerem fortemente a esperança de que o morto continuasse vivendo num outro mundo. Desde então, praticamente não existe religião, crença ou cultura que não descreva algum tipo de vida após a morte – o Amenti egípcio, o Paraíso e o Inferno dos cristãos, o plano astral dos esoteristas, o Bardo do budismo tibetano são todos diferentes versões do mundo que supostamente nos espera.
A hipótese de que a consciência humana sobreviva à morte automaticamente levanta uma outra possibilidade ainda mais intrigante: a de que talvez seja possível estabelecer algum tipo de comunicação com os mortos. Histórias de fantasmas e aparições dão mais peso a essa possibilidade. Mesmo que a grande maioria dessas histórias possa ser descartada como pura lenda, crendice ou farsa, resta uma pequena porcentagem que desafia explicações racionais.
Em todo caso, histórias de fantasmas indicam um tipo de comunicação com os mortos em que a iniciativa do contato parte do espírito. É ele quem escolhe quando e como se manifestar aos vivos. Mas e o contrário, será possível?
Muitos acreditam que sim. Um dos ramos da magia antiga, a chamada necromancia, mencionada até na Bíblia, era voltada exclusivamente para a arte de evocar os mortos, com rituais executados em cemitérios e que frequentemente envolviam o sacrifício de animais.
A natureza bizarra de seus rituais sempre fez com que a necromancia fosse olhada com desconfiança pelas instituições religiosas e, com o tempo, ela foi quase completamente abandonada. A partir do século XIX, os necromantes foram substituídos por médiuns, pessoas que alegam enviar e receber mensagens dos mortos graças a um dom puramente psíquico, sem necessidade de todo o aparato exótico da necromancia. De acordo com os que acreditam, existem vários tipos de mediunidade:
  • Clarividência: a capacidade de ver os mortos.
  • Clariaudiência: a capacidade de ouvir as vozes dos mortos.
  • Psicografia: a capacidade de escrever mensagens ditadas pelos mortos.
  • Intuição: a capacidade de receber insights, que muitos acreditam se originar de uma fonte espiritual.
Com o advento da tecnologia, surgiu uma nova modalidade de suposto contato com o mundo dos espíritos, a chamada transcomunicação instrumental (TCI), que se refere a qualquer tipo de comunicação com os mortos feita com o auxílio de meios eletrônicos – gravadores, telefone, televisão e até, mais recentemente, computadores.
O pioneiro da transcomunicação instrumental foi o psicólogo lituano Konstantin Raudive, originalmente um discípulo de Carl Gustav Jung, que abandonou seu país de origem após a Revolução Comunista e se radicou na Suécia. Na década de 1960, Raudive e o parapsicólogo alemão Hans Bender se dedicaram a investigar o fenômeno das vozes eletrônicas (electronic voice phenomena ou EVP), originalmente descrito pelo pesquisador Friedrich Jürgenson. EVPs são produzidos por um gravador comum, sintonizado em estática ou ruído branco, em meio ao qual ocasionalmente surgem vozes que não são atribuíveis a nenhuma fonte humana.
Para os que acreditam, essas vozes se originariam de espíritos desencarnados tentando se comunicar com os vivos. Para os que não acreditam, elas teriam uma explicação natural. Os céticos salientam que o cérebro humano é programado para perceber padrões significativos mesmo onde não existe nenhum, como quando, por exemplo, olhamos para uma nuvem e vemos um elefante. De acordo com eles, os EVP seriam o equivalente auditivo dessa mesma tendência, que nos faria ouvir vozes onde existem apenas ruídos aleatórios.

MARTE

Em 25 de julho de 1976, a sonda espacial Viking I tirou uma fotografia da superfície de Marte mostrando o que parecia ser uma gigantesca face humana esculpida em pedra na região de Cydonia. Gerry Soffen, na época o cientista-chefe da missão Viking, classificou a imagem como uma ilusão causada por um jogo de luz e sombra, mas a imprensa não lhe deu muita atenção. A imagem do rosto de Marte ganhou o mundo, tornou-se um ícone pop e, durante os vinte anos seguintes, passou a alimentar as mais bizarras teorias e especulações.
A hipótese mais popular entre os ufólogos é a de que o rosto de Marte seria a prova de que o planeta vermelho tem ou teve no passado uma civilização avançada, criada por seres semelhantes a nós. O principal proponente dessa ideia é o americano Richard C. Hoagland, que foi curador de astronomia e ciência espacial do Museu da Ciência de Springfield e é autor de vários livros sobre o assunto. Hoagland acredita que os supostos marcianos teriam chegado a colonizar a Lua, bem como alguns satélites de Júpiter e Saturno, e que a NASA e o governo americano conspiram para manter esse fato escondido do público.
A partir desse template básico, surgiram dezenas de variações da hipótese. Há quem acredite, por exemplo, que nós somos descendentes dos marcianos que construíram o rosto de Cydonia, os quais teriam colonizado a Terra e migrado para cá quando Marte se tornou inabitável. Outros sugerem o contrário, que a Terra teve uma civilização avançada no passado, que foi destruída por uma catástrofe, e que essa catástrofe teria provocado um êxodo dos sobreviventes em direção a Marte. Alguns grupos religiosos chegaram mesmo a dizer que o rosto de Marte era ninguém menos do que Jesus Cristo, e que o monumento teria sido colocado lá por Deus em pessoa como um sinal para nós.
Infelizmente para os que acreditam nessas especulações, porém, tudo indica que Gerry Soffen estava certo e que o célebre rosto de Marte não passa de um jogo de luz e sombras. Novas fotos tiradas no início do século XXI por várias missões não-tripuladas americanas e européias mostram a região de Cydonia por um ângulo diferente e com uma resolução muito superior à das imagens da Viking I. E nessas fotos não se vê nem sinal de um rosto esculpido na pedra.
Claro que os adeptos de teorias conspiratórias não se deixam convencer com tanta facilidade. Eles alegam que as imagens mais recentes são falsas, criadas por computação gráfica como parte de uma conspiração para ocultar os fatos, e continuam firmes em sua crença inabalável na existência de uma grande civilização marciana capaz de esculpir gigantescos rostos em pedra.
A verdade, como sempre, está lá fora. Mais exatamente, na planície de Cydonia, em Marte.

A ATLÂNTIDA ESPANHOLA

Em março de 2011, o arqueólogo Richard Freund ganhou notoriedade na imprensa internacional ao proclamar em alto e bom som que ele e sua equipe tinham finalmente encontrado as ruínas da legendária cidade de Atlântida, descrita originalmente pelo filósofo grego Platão e que desde a antiguidade vem inflamando a imaginação das pessoas.
Professor da Universidade de Hartford, Freund encontrou a primeira pista para o que ele supõe ser a solução do mistério em 2008, ao examinar uma série de fotografias da costa da Espanha tirada por satélites. As fotografias mostravam uma série de linhas retas sob as águas, e que tinham todas as características de serem ruínas submersas nos arredores do Parque Nacional Dona Ana, na costa espanhola.
Nos dois anos seguintes, Freund e seus colaboradores vasculharam a região e encontraram uma série de artefatos que lhes deram a certeza de que estavam na pista de alguma coisa. Esses artefatos traziam gravados um símbolo que, de acordo com Freund, é semelhante ao símbolo da Atlântida descrito por Platão.
Outros indícios encontrados pelo arqueólogo reforçaram suas conclusões. Entre eles, restos de madeira que, quando analisados, revelaram evidências de que teria havido uma grande e súbita mortandade, causada por um tsunami ocorrido por volta do ano 440 a.C. Para Hartford, teria sido esse tsunami que destruiu a Atlântida.
O entusiasmo de Hartford, no entanto, é prematuro, uma vez que suas descobertas não coincidem com as datas fornecidas por Platão. Em seus diálogos, Timeu eCrítias, o filósofo grego diz que o mito da Atlântida chegou até nós graças ao estadista grego Sólon, que teria ouvido a história dos egípcios. Acontece que Sólon nasceu em 638 a.C. e morreu em 558 a.C. Ou seja, quando os egípcios contaram a história da Atlântida a Sólon, o tsunami de 440 a.C. nem sequer tinha acontecido. Para piorar ainda mais as coisas, os próprios egípcios disseram que a catástrofe que destruiu a Atlântida ocorreu muito tempo antes, mais exatamente há dez mil anos.
Os achados de Hartford não estão em discussão. Tudo indica que de fato houve uma cidade nas costas da Espanha que foi destruída por um tsunami no ano 440 a.C. Mas, qualquer que seja essa cidade, uma coisa é certa: não era a Atlântida.

MENSAGENS NA ÁGUA

Durante séculos, xamãs, curandeiros e bruxos têm alegado que é possível energizar a água com vibrações positivas, e que a água assim energizada tem efeitos benéficos sobre a saúde física e mental de quem a bebe. A ciência sempre torceu o nariz para alegações desse tipo, rotulando-as como superstição e crendice. Mas uma descoberta feita pelo pesquisador japonês Masaru Emoto sugere que pode haver bem mais do que um fundo de verdade nessas crenças.
Há anos, o dr. Emoto vem realizando uma série de experimentos com cristais de água, que apresentam uma bela estrutura hexagonal. De acordo com Emoto, emoções, intenções e até mesmo música são capazes de influenciar a simetria desses cristais. Emoções positivas, boas intenções e música suave reforçam o padrão simétrico dos cristais, tornando-os mais belos, ao passo que música agitada, pensamentos maldosos e emoções negativas distorcem a simetria, tornando os cristais irregulares.
Para provar essa influência, o dr. Emoto apresenta em seus livros uma série de fotos, feitas por ele e por seus auxiliares, e existem vídeos na Internet que supostamente registram as mudanças pelas quais a água passa quando exposta a uma série de estímulos diferentes.
O pesquisador japonês está convencido de que as energias projetadas sobre a água ficam armazenadas na estrutura dos cristais, e em 2005 criou a International Water for Life, uma instituição sem fins lucrativos, cujo objetivo é tentar melhorar as condições do planeta energizando positivamente suas águas.
No entanto, é preciso cautela antes de abraçar as conclusões de Emoto. Até agora, nenhum outro cientista conseguiu reproduzir os resultados de seus experimentos, o que é considerado uma condição imprescindível para que qualquer teoria seja aceita pela comunidade científica.
Em todo caso, é algo que vale a pena considerar da próxima vez que você for tomar um copo d’água. É possível que ele faça bem mais do que simplesmente matar sua sede.

discos voadores

No dia 24 de junho de 1947, o comerciante Kenneth Arnold estava pilotando seu avião particular nos arredores do Monte Rainier, em Washington, quando avistou nove objetos não-identificados que descreveu como discos voadores. A expressão colou e, desde então, os objetos voadores não identificados (em português OVNI, em inglês UFO) também passaram a ser conhecidos como discos voadores, mesmo quando não têm a menor semelhança com discos,
Mas Kenneth Arnold não foi nem o primeiro, nem o último a avistar esses objetos. Relatos de avistamentos de OVNIs continuam a pipocar até hoje nos noticiários de todo o mundo e já faziam parte dos anais da história da humanidade muito antes que Arnold os batizasse de “discos voadores”.
Pilotos da II Guerra Mundial frequentemente relatavam que seus aviões eram perseguidos por objetos luminosos, que eles apelidaram de foo fighters (“caças malucos”), e o excêntrico pesquisador Charles Hoy Fort, que ficou conhecido como “o apóstolo do absurdo” e se especializou em colecionar notícias de fenômenos bizarros, compilou centenas de casos de avistamentos nos séculos XIX e início do XX.Histórias preservadas nos mitos e lendas de todos os povos, bem como pinturas nas cavernas mostrando estranhos seres e objetos, sugerem que os discos voadores podem estar assombrando nossos céus pelo menos desde a pré-história.Ao redor dos discos voadores, constituiu-se toda uma ciência nova, a ufologia. Um de seus fundadores foi o falecido Dr. Joseph Allen Hynek, um astrofísico norte-americano que, até sua morte, em 1986, era considerado o papa da ufologia. Em seu livro Ufologia – Uma Pesquisa Científica, Hynek propôs uma classificação usada até hoje para agrupar os relatos de casos ufológicos:
  1. Contatos Imediatos do I Grau: o simples avistamento de um objeto não-identificado.
  2. Contatos Imediatos do II Grau: um avistamento que também está associado a efeitos físicos supostamente causados pelo objeto.
  3. Contatos Imediatos do III Grau: não só o avistamento de um objeto, mas a interação da testemunha com seus alegados tripulantes, os ufonautas. (É daí que vem o nome do filme de Spielberg.)
Mas afinal, o que são os discos voadores?
A hipótese mais popular diz que esses objetos são espaçonaves alienígenas visitando nosso mundo. É uma hipótese fascinante, que incendeia a imaginação das pessoas, e recebeu um reforço adicional das histórias dos contatados, testemunhas que juram que estiveram em contato direto com os alienígenas que supostamente constróem e tripulam os discos voadores.
No entanto, é preciso ter cautela e não colocar o carro na frente dos bois. A sigla OVNI significa apenas “objeto voador não-identificado”, e não existe nenhuma evidência concreta que nos permita identificar esses objetos voadores a espaçonaves alienígenas. Por mais sedutora que a hipótese extraterrestre pareça, ela é só uma hipótese. Existem outras, que também precisam ser levadas em conta.
O próprio Hynek estava longe de aceitar a hipótese extraterrestre. Quanto mais estudava o assunto, mais Hynek ficou convencido de que se tratava de um fenômeno paranormal gerado pela mente humana, ou então de um fenômeno relacionado a universos paralelos. Esta última teoria também foi proposta pelo pesquisador John A. Keel e por outro astrofísico que se tornou ufólogo, o francês Jacques Vallée. Tanto Keel quanto Vallée sugerem que inteligências provenientes de um mundo paralelo – o que, no jargão ufológico, às vezes é chamado deultraterrestres – criaram o fenômeno OVNI com o objetivo de enganar e manipular a humanidade.
Já a teoria de que as visões ufológicas são um fenômeno gerado pela mente humana foi proposta por ninguém menos do que Carl Gustav Jung, o grande psicólogo suíço que foi o principal discípulo de Freud antes de romper com o mestre e criar sua própria escola de psicologia. Jung escreveu sobre os OVNI em seu livro Discos Voadores – Um Mito Moderno Sobre Coisas Vistas no Céu, onde ele mostra que os relatos sobre discos voadores refletem os mesmos padrões arquetípicos que Jung encontrou nos mitos e nos sonhos, e que são uma manifestação de estruturas do inconsciente coletivo da humanidade. Jung não excluía a possibilidade de um fenômeno natural desconhecido, mas acreditava que esse fenômeno era apenas uma base sobre a qual as pessoas projetavam imagens inconscientes.
Na década de 80, o psicólogo canadense Michael A. Persinger apresentou uma ideia intrigante sobre qual poderia ser o fenômeno natural sugerido por Jung. Persinger descobriu que, quando expostas a campos eletromagnéticos com uma frequência semelhante à das ondas cerebrais, as pessoas entravam em um estado alterado de consciência e tinham visões idênticas às descritas pelas testemunhas ufológicas.
Indo mais além, Persinger mostrou que a maioria dos avistamentos ufológicos ocorrem nas imediações de campos eletromagnéticos naturais ou artificiais – correntes telúricas, falhas tectômicas, linhas elétricas, etc. Sua explicação para o fenômeno OVNI é a de que são visões induzidas pela proximidade com esses campos.
Visitantes alienígenas, habitantes de um universo paralelo, projeções arquetípicas ou fenômenos eletromagnéticos – sejam lá o que forem, os discos voadores continuam por aí, assombrando os céus do planeta, e seu mistério ainda aguarda uma explicação satisfatória.